19 de agosto é o Dia Internacional da Fotografia, e hoje vou reproduzir uma materia muito interessante, sobre um francês, um dos pioneiros da fotografia, que morou no Brasil.
Você vai conhecer um dos menos conhecidos e mais importantes pioneiros desta técnica; ele era francês e viveu no Brasil. Suas descobertas tornaram possível um sonho do século dezenove: eternizar imagens em papel.
Para entender essa história, é preciso fazer uma viagem no tempo. A primeira fotografia foi feita em 1826, na França, por Nicephore Niépce: era um retrato de telhados vistos da janela.
Louis Daguerre e Hippolyte Bayard continuaram os experimentos na França. Na Inglaterra, Fox Talbot tinha a mesma obsessão.
E em Campinas, no interior de São Paulo, um artista e cientista autodidata também fazia suas descobertas. Era outro francês, Hercules Florence.
“A fotografia não foi inventada por um único homem. Foi inventada pelo Niépce, foi reinventada pelo Daguerre, foi inventada na Inglaterra pelo Talbot e nas Américas pelo Hercules Florence", conclui o historiador Boris Kossoy.
Florence nasceu em Nice, na França e chegou ao Brasil em 1824, aos 20 anos. Aventureiro, ele queria dar a volta ao mundo, mas ficou por aqui; cedeu aos encantos do Brasil, que desenhou durante a expedição Langsdorff – um botânico alemão que comandou um grupo do rio Tietê ao Amazonas.
“Na expedição ele teria começado a pensar que deveria haver uma máquina que registrasse todas as figuras rapidamente. Ali, então, eu acho que começou alguma coisa na mente dele", acredita Tereza Cristine Florence, trineta de Hercules.
No início do século 19, em diferentes partes do mundo, vários pesquisadores tentavam eternizar a imagem. Parte do processo já era conhecida; faltava aperfeiçoar a técnica e descobrir como fixar a imagem no papel. Em seus manuscritos, Hercules Florence conta que utilizou amoníaco para esse fim.
Também foi ele quem usou, pela primeira vez na história, a palavra “fotografia”: do grego, ‘foto’ quer dizer luz; ‘grafia’, impressão. Isso foi em 1834.
"É bem provável que se possam fotografar desenhos de uma maneira pela qual apresentem prateados em campos coloridos", escreveu Florence. Só cinco anos mais tarde, a palavra seria empregada na Europa.
Em 1839, Daguerre descreveu minuciosamente seu processo de registro da imagem. Distante do centro do mundo, Florence pagou o preço do isolamento, quando soube pelos jornais da descoberta do conterrâneo.
“Ele descreve nos manuscritos, que ele sentiu um tremor, uma tontura, e ele quase veio a desmaiar. Ele esperava ainda ter um reconhecimento, ter o privilégio da invenção. Realmente, aquilo foi muito forte”, conta a bisneta do inventor, Leila Florence.
Hoje, Florence é citado na bibliografia internacional entre os pais da fotografia. Mas isso levou quase um século e meio pra acontecer: em 1976, a pedido do fotógrafo e historiador Boris Kossoy, químicos repetiram nos Estados Unidos as experiências descritas nos manuscritos, e provaram a história que ainda é pouco conhecida no Brasil.
“Naquele momento se considerava a Europa como centro da civilização, tudo partia de lá. Como é que isso vai acontecer também no Brasil? Então, tem gente que não consegue engolir essa história”, diz Kossoy. “Mas ela está documentada, e está cada vez mais divulgada”.